sexta-feira, 5 de novembro de 2010

O SONHO - Intimidade

Os nuances de verde na parede me acalmavam. A luz do abajur refletia-se nos móveis cor de marfim e inundava o ambiente tornando-o mais agradável. Havia aromas no ar. O perfume do creme de morango que eu acabara de passar no corpo misturava-se ao do sabonete na espuma que ainda se via na banheira.

Era noite e a perspectiva de deitar-me na cama com alvos lençóis me parecia um presente dos céus. Dormir uma boa noite de sono... Como seria bom! E como era bom desfrutar do prazer das coisas simples! Logo minha pele era acariciada pela maciez dos lençóis e sobre a colcha branca de algodão que os cobria havia ainda a manta azul de linha, feita no grande tear, por mãos mineiras, muito leve e que proporcionava o calor que meu corpo necessitava naquela noite de primavera.

Na grande cama de casal, embora eu estivesse sozinha, sempre me deitava do lado direito, era ali o meu lugar. Fechei os olhos e mentalizei todas as coisas boas que desejava para mim e as pessoas que amo, estivessem elas perto ou longe. Pedi ao meu Poder Superior que me guiasse nas decisões que inevitavelmente teria que tomar e clareasse a visão do meu caminho.

Logo adormeci. O sonho aconteceu de forma inesperada. Eu parecia estar acordada. E foi como se a sua presença se materializasse ao meu lado, como numa experiência fora do corpo. E eu me senti nos seus braços. Entre eles. Deitado de lado, seu corpo em concha mais do que abraçar, acolhia o meu, num grande envolver. Seu hálito penetrava por entre os fios dos meus cabelos. Suas mãos tocavam a pele dos meus braços levando-me para mais perto de você. Tão perto que eu ouvia as batidas do seu coração. Eu não podia ver seu rosto, mas a sensação que o contato com o calor de seu corpo me despertava, confirmava que estava ali, bem junto de mim.

O sonho durou um tempo que não conseguiria precisar, bem menos do que eu gostaria de vivenciar. Eu queria aprisionar aqueles momentos, parar o tempo naquela noite e continuar para sempre naquele aconchego, no prazer do contato com o seu corpo, sentindo a sua respiração. Surpresa, abri os olhos, incrédula por ver que tudo não passara de um sonho. Meu olhar encontrou a seda do abajur e um perfume masculino penetrou-me, sem que eu soubesse de onde nem como poderia ter invadido o quarto àquela hora da madrugada. Olhei ao redor e percebi que estava do outro lado da cama, como se de fato, alguém estivesse ao meu lado. Não havia ninguém.

Mas a sua presença ainda estava ali, marcante, como o calor do seu corpo no meu. Eu ainda duvidava de que tivesse apenas sonhado. As sensações que perpassaram meu corpo naquele momento me davam um prazer imenso. Era melhor que o sol queimando a pele nos dias de verão, ou a brisa refrescando o rosto, e afastando os cabelos no entardecer dos dias quentes. Era melhor que o aconchego ao lado da lareira nos dias muito frios. E melhor que saborear um vinho ou ouvir jazz nas melhores vozes. Melhor que bolinho de chuva numa tarde qualquer. Era melhor que se entregar à chuva, pega de surpresa, sentindo os pingos escorrerem pelo rosto e molharem os cabelos. Melhor que bombons de chocolate com licor, derretendo na boca. Era melhor que sentir-se em casa depois de um dia estressante.

Não havia sido um sonho erótico, e por todas as emoções que despertou em mim, resolvi chamá-lo de Intimidade. A sensação do prazer daquele contato, da sua presença muito vívida, apesar de ter sido só um sonho, ainda vibra em todo o meu ser, como naquela noite, profundamente.

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