quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

KKKKKKKKKKKKK... é possível enquadrar o riso?












Tudo começou há poucos anos, no msn com os risos virtuais em forma de rsrsrs...

Eu tinha um amigo que me enviou um emotion de um homenzinho vestido de verde, com seu grande sorriso de lábios vermelhos, cujo símbolo era rs e essa figura “caía no chão”, de tanto rir...

 O filho desse amigo encontrou uma semelhança física entre o homenzinho do emotion e um político da região. Então, apelidamos esse risonho virtual com o nome do político no diminutivo. (Obviamente, não posso revelar essa identidade, pois aqui não é horário eleitoral gratuito e, além disso, esse político anda em baixa até com candidatura impugnada por uns anos...)

 Mas o emotion nos rendeu bons risos.

Eu preferia os rsrsrs aos kkkkkkkkkkkkkkkk no msn para expressar risos.

 E achava meio despudorado esse riso kkkkkkkkkkkkkkkk e, ainda, muito histérico, quando umas amigas virtuais soltavam um longo kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk.

 Nesse tempo, eu jamais ousei usar um kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk, que excesso de riso era meio burrice, falta de ter o que falar...

 Há pouco, no Facebook, uma amiga postou:

 “Pessoas que soltam um kkkk ao fim de cada frase aleatoreamente, realmente me assustam!” E foram muitos e diversos os comentários...

 Eu respondi:

 “kkkkkkkkkkkkk esse vai no começo da frase... aleatoriamente...”

 Então, menos instintivamente que claramente, percebi que eu já estava mais permissiva quanto aos kkkkkkkkkkk como imagem simbólica virtual do riso. Até porque aquele meu amigo do msn, o do emotion risonho rsrsrs, já tinha me contaminado com os kkkkkkkkkkkkkkkkk no FB. E eu já rira muito esse riso virtual kkkkkkkkkkkkkkkk, sem me dar conta da quebra do preconceito com os kkkkkkkkkkkk.

 
Depois, refleti sobre eles, os kkkkkkkkkkkkkk, que riso é coisa séria, e completei, no post da minha amiga:

 
“Verdade, Maíra... Eu preferia o rsrs... Mas depois achei tão espontâneo... o ahaha... e, bem, depende do momento, mas o kkkkkkkkk é o riso gostoso... e só precisa esquecer o dedo na tecla... altamente relaxante...”

 
Foi a constatação de que eu evoluíra em termos de simbologia do riso... Saíra do simples rsrsrs... passando pelo ahaha... sem precisar usar o mais contido hehehe... e caíra na farra do kkkkkkkkkkkkkkkkkk.

 
Sem culpa, sem pudores, sem mais aquela das pessoas “normais” que olham um olhar reprovação para todos aqueles que soltam uma gostosa gargalhada num local público, que, afinal, riso tem que ter hora, lugar e forma. Será?

 
Cansei de tentar ser “normal”. Percebi que não sou e nem quero ser... Nunca quis...

 
Acho que evolui na consciência de ser, ou de saber ser, ou de bancar o que sou... sei lá.

 
E talvez por isso tenha evoluído para o riso debochado... ainda que virtual, dos kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk.

 
Porque, falando sério, ser normal é chato. Ser normal tipo frases de efeito como “Rico ri à toa” ou “Ele ria como louco”, que, afinal, o mundo está cheio de rico triste e louco que nem ri.

 
Pensando bem, foram tantas as pessoas queridas que se foram neste fim de ano, de repente, e que não podem mais usar com elas nem rsrsrs nem kkkkkkkkkkkkkkkk real ou virtual... – Quiçá elas possam rir do que escrevo em outras esferas – que resolvi adotar o kkkkkkkkkkkk como símbolo oficial da alegria, pelo menos da minha. Que “Viva e deixe viver” continua valendo.

 
Só por hoje, deixo de querer controlar o riso.

 
Quem consegue conter o riso, que explode de repente, num local ou momento altamente “sério”? Quem já não andou pela rua “rindo sozinho”?

 
Então, vamos combinar, que riso é como água, não dá pra agarrar, tem vontade própria, tem personalidade, ainda que cômida, não dá pra enquadrar.

 
E decidi isso, meio que parafraseando Guimarães:

 
Qualquer kkkkkkkkkk já é um pouquinho de alegria, um descanso no loucura.

 
E viva a alegria, a liberdade do riso! kkkkkkkkkkkkkkkkkkk

Imagem: Google

terça-feira, 28 de dezembro de 2010

PASTAGENS... Uma metáfora sobre a AUTO-ESTIMA


















Há momentos em que o viver
Sem a devida auto-estima
Permite aos humanos uma imagem metafórica,
De mato na encosta das estradas.
E daí dar um - Basta!
Depende de cada um dizer:
“Meus tempos de servir de pasto estão no final”.
Podem parecer palavras rudes
Mas, há momentos em que essas cruas constatações
Em ásperas metáforas. nos salvam.
A verdade, às vezes, é rude, mas exata.
Sinônimos brandos seriam negação.
E sempre se pode tocar o limiar da mudança interior
Por meio de um claro despertar.
Amanhã será outro dia
E tudo volta... às voltas.
Os tempos de pasto passam
E não voltam.
Sabe o que é pasto?
Já viu cavalos
Pastando?
Chegam à beira da estrada e detonam
Todo o mato,
Não interessa saber os por quês.
Vão pastando tudo,
O mato que se dane!
Afinal, mato é de graça...
O que querem é matar a fome,
Só quem já foi “pasto” é que sabe.
Como no sentir do humilde funcionário,
Que se vê no corpo da barata
Em “A Metamorfose” de Kafka.
Mas quem pasta também sabe
Só finge não saber
Porque quem serve de pasto
Se deixa não perceber.
Tudo pode ser expresso em poesia
E melhor diz quem tem o dom.
O desfecho é ir fundo
Não poupar nada
Nem se poupar
Nessa busca pela auto-estima.
A vida, por vezes, parece estúpida
As pessoas se tornam estúpidas aos nossos olhos e sentimentos.
Eu apenas traduzo em palavras
Que podem fornecer a imagem metafórica
De uma cena emocional, interna...
Mas podem também sugerir
Mudança
Para que a estupidez perca força.
Porque há dias de descobrir como se cuidar
É difícil...
Mas por falar em pastagens
Me ocorrem as cerquinhas,
Limites... a construir,
Relacionamentos... a consertar.
Cerquinhas brancas na paisagem
Ao redor da estrada, a grama verde protegida
De cavalos soltos em busca de pasto.
Quem quer restabelecer sua auto-estima
Sabe como...

Imagem: Google

sábado, 25 de dezembro de 2010

CONTANDO HISTÓRIAS... REAIS... PARA CRIANÇAS


Contar histórias reais para crianças, de forma lúdica, com o compromisso de uma brincadeira séria, envolvendo uma equipe multidisciplinar ou para usar o termo mais presente na pedagogia do momento: um projeto transdisciplinar. Uma das minhas propostas de trabalho para 2011.

Contar histórias dos pontos turísticos e históricos de São Roque: Capela do Santo Antônio, Morro do Saboó, CEC Brasital, Estação Ferroviária, Igreja de São Benedito, Morro do Cruzeiro, Mata da Câmara...

Contar histórias de forma atraente, sugeridas por imagens criadas por um ilustrador local, criando um universo de faz-de-conta para contos de verdade.

Contar histórias reais para crianças e contextualizá-las de diversos pontos de vista, usando elementos da arquitetura, da Língua Portuguesa, da cultura local, folclore, arte, relacionando-os com a História do Brasil.

Nas imagens desta postagem, com meu texto, ilustrações de Wilson Cláudio e diagramação da Timbre Comunicação, dois exemplos. (Clique nas imagens para ampliá-las).

“A Capelinha” resume a história da Capela de Santo Antônio, monumento histórico da época colonial, construído por Fernão Paes de Barros, irmão do fundador da cidade, que reúne capela e uma casa, e se preserva a partir da aquisição do sítio pelo escritor Mário de Andrade, que deu início à reforma e preservação e a doou ao Iphan, nos anos 1940.

“O Dragão do Morro do Saboó” é uma história do imaginário da cidade, que não chega a ser comprovadamente uma lenda local, inspira-se no formato do morro denominado Saboó, o mais alto acidente geográfico da cidade, com 1000 m de altitude, que se parece com a imagem de um dragão adormecido.

O sonho é envolver artesãos e artistas da cidade nessa Contação de Histórias e direcioná-las aos deficientes visuais, texturizando as imagens para que possam ser “visualizadas” por eles por meio do tato. Meu texto é apenas a sugestão de um roteiro...

Que venha 2011!

Clique nas imagens para ampliá-las e ler as "historinhas".














Textos: Silvia Mello
Imagens: Wilson Cláudio
Diagramação: Timbre
Direitos Autorais reservados
Proibida cópia

sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

MUDANÇA, UMA PONTE PARA A AUTO-ESTIMA

Auto-estima parece jogo de palavras. Estimar a si mesmo é algo tão óbvio e simples. E por que tão complicado? Por que é a “palavra” de ordem para muitas questões psicológicas e de comportamento?

Auto-estima, como pressuposto para relacionar-se, atingir o sucesso, ultrapassar barreiras, é algo que até se tornou lugar comum e permeia os textos de auto-ajuda. Analisar os por quês da falta de auto-estima ou da “baixa auto-estima” é o ponto forte de diversas práticas e correntes psicológicas.

Para encurtar a história, sugiro que auto-estima se constrói, com pequenas e gradativas mudanças. E mudar, nesse caso, é um verbo que se conjuga no gerúndio... Só se muda, mudando.

Se você quer emagrecer, não importa como, mas uma coisa é certa, quando conseguir livrar-se de uns dois quilos e sua calça jeans começar a dar sinais de folga... Aí sim, virá o incentivo para jogar fora os quilos indesejados.

Se você tenta colocar o ponto final num relacionamento complicado, mas ao mesmo tempo necessita dele compulsivamente, quando conseguir não enviar aquela mensagem pelo celular, esquecer que o telefone “tem” de tocar, deixar de abrir o esperado e-mail, quase tranquilamente... Aí sim, estará no caminho para, numa bela manhã, acordar sem se lembrar.
De quem mesmo?

Mudanças acontecem gradativamente, fazem parte de um processo, mas iniciá-lo é uma decisão de cada um. “Deus ajuda quem se ajuda”, proclama o sábio dito popular, confirmado pelo verso bíblico que diz que “a fé sem obras é vã.”

Milagres acontecem, é claro. Mas, construir a mudança é abrir-se para os milagres. Se fechamos os olhos e nos acomodamos, como podemos saber se é hora de embarcar numa viagem que nos levará onde queremos?

Se você costuma colocar sempre as necessidades alheias em primeiro lugar, nunca encontra tempo para se dedicar de corpo e alma às suas próprias necessidades, há algo errado.

Se seus projetos são sempre adiados e você está vivendo na zona de conforto, onde nada está bem, mas tudo está calmo, há um certo desconforto no ar.

Se você apenas devaneia de vez em quando e se permite sonhar, sem pensar em conquistar o sonho, há uma certa necessidade de se conectar com a vida real.

O que há de errado?

Essa é a pergunta quando vivemos uma vida acomodada, onde nenhuma catástrofe está acontecendo e, mesmo que aconteça, acabamos por superar, mas se olharmos para o fundo do baú das nossas necessidades, parece que falta algo.

Aí podemos cair de novo na mesmice de alguns textos de auto-ajuda que propõem simplesmente a positividade ou nas teorias psicológicas que buscam o porquê da auto-sabotagem, de nunca encontrar o lugar para onde o sonho aponta.

O problema pode estar na auto-estima, ou na falta dela. Novidade? Não, dizer isso é "chover no molhado".

Para chegar ao finalmente, proponho algo que se baseia na minha prática.

Se auto-estima se constrói, e sabemos que nos amar e nos estimar é um movimento de dentro para fora, temos tudo de que precisamos. Não adianta ninguém nos dizer o quanto somos bonitas, interessantes, cheias de graça e qualidades, se nos sentimos defasadas em alguma parte de nossa vida. Se não nos sentimos à altura o bastante.

Ame-se, simplesmente, não ajuda. Amor incondicional é tudo. Não preciso "ser" nem fazer nada para me sentir merecedora de amor. Mas isso também passa pela auto-estima.

É preciso ter razões para amar-se.

É preciso criar razões para a auto-estima.

Um toque na aparência, uma melhora no guarda-roupa, iniciar aquela caminhada diária?
Sim, pode ser qualquer coisa. Podemos partir do visual, que nos conecta com o mundo... Lembrando que vale aquilo que me faz sentir bem e amada. Por mim, primeiro... e não a opinião alheia. Isso se aprende com o tempo, com a prática do construir a auto-estima. O prazer de se sentir confortável com a própria opinião sobre si, que muda, com pequenas mudanças, que melhora com pequenos prazeres, como o de olhar no espelho e se enxergar bem . Linda, melhor ainda...

E razões para a auto-estima podem ser aquelas que nos conectam com as pessoas, melhoram os relacionamentos, a comunicação, a aceitação, o respeitar limites, o fazer-se respeitar, o derrubar barreiras, o criar intimidades. Lembrando-se que o foco deve estar em si mesma. “Sou a pessoa mais importante de minha vida”.

Razões para a auto-estima são, essencialmente, as que nos conectam com nossa alma. Que nos permitem estar bem em nossa presença, gostar de nossa própria companhia, do nosso jeito de ser, de pensar. Daí, manter as expectativas no nível do real. Partir do concreto possível para o sonho, quase impossível, de ser o que gostaríamos de ser para nos amar mais ainda. E partir do concreto, do que temos, passa pelo auto-conhecimento e pela aceitação do que somos. Olhar para o espelho da alma e deixar cair a máscara. E então, primeiro amar o que somos, para então, construir o que queremos ser.

Parece difícil, às vezes contraditório? Pode ser, mas se a meta é mudar, por que não?

Por que não tentar o novo? Por que não se arriscar?

À medida que vou à procura de metas para o que quero ser ou fazer, e começo a dar passos em direção aos meus objetivos, estou mudando. Estou me realizando; e me realizando, eu me dou motivos para me amar... Mais... Eu me valorizo, fortaleço a auto-estima.

Não há receitas para o processo de mudança na construção da auto-estima, cada um tem seu caminho, suas razões, seus sonhos.

Mas auto-estima não se alcança com mágica, e sim com disposição, aceitação e trabalho diário em busca da mudança.

Amar-se deve vir em primeiro, mas a vida é um aprendizado, como um jogo onde temos que fazer escolhas, tomar decisões, experimentar opções. E como num jogo, as cartas podem vir embaralhadas. Cabe a nós ordená-las e colocá-las na sequência coerente, para que possamos nos mover em direção ao nosso objetivo, buscando vencer.

Auto-estima pode ser um dos aprendizados que a vida nos apresenta.

E aprender é um processo de mudança.

AME-SE O SUFICIENTE PARA MUDAR. MUDE PARA AMAR-SE MAIS.

Imagem: Google

terça-feira, 14 de dezembro de 2010

UMA HISTÓRIA DE GATO, SETE VEZES LEAL


Eu tive um gato, certa vez, mas fui proibida de levá-lo para casa.
Tive que devolvê-lo a quem me presenteara.
Hoje tenho duas cachorras.
E sei que animais são leais, incondicionalmente, e não necessitam de pactos de fidelidade para serem fiéis. São teimosos, espertinhos e manhosos, sabem manipular, mas seu amor nunca se contamina por rancores ou desconfianças. São ciumentos, às vezes, mas sabem reconhecer quem lhes faz o bem. Acredito que animais têm sua própria espécie de alma e muitas vezes superam os humanos em sua capacidade de “sentir” e serem solidários.

Mas, hoje o protagonista é gato.
Gatos me chamaram a escrever.
Gatos foram notícia duas vezes esta semana nas principais chamadas de um grande jornal. Gatos são famosos por suas aventuras... E não estou me referindo a Tom.
O ímpeto aventureiro dos gatos, sem dúvida, me remete aos Saltimbancos de Chico Buarque, dos quais deixo no final uma partezinha, uma música em vídeo - "A História de uma Gata":

“Nós gatos já nascemos pobres, porém, já nascemos livres...”

Gatos são notícia por suas peripécias que vão além dos gemidos de amor nos telhados à noite. O gato de uma amiga caçava seus ratos no mato e vinha mostrar o feito com a vítima na boca...
Scrub, um gato malhado, cinza e branco, hoje com sete anos, sobreviveu ao furacão Katrina, nos EUA e, com a ajuda de algumas pessoas e um chip, conseguiu voltar à sua família humana, no Mississipi – cinco anos depois. Não é para qualquer um, é coisa de gato...
Giggs, um gato preto, teve a sorte de ser resgatado do motor de um carro, após rodar dentro dele por trinta minutos em Nova York. E só teve algumas unhas arrancadas.
Dizem que gatos têm sete vidas. E não deve ser mentira...

O protagonista do meu relato de hoje é um gato, não sei o nome. Vivia na casa de uma professora viúva, com seus três filhos e um cão. Quando a família resolveu mudar de casa, a mulher decidiu livrar-se do gato. Simples assim... O gato nascera na casa, estava acostumado a ser cuidado e alimentado, tinha sua almofada de dormir, macia, quentinha nas noites frias.
Afinal, era apenas um gato, um animal, não é? Não falava, não reclamava.

E assim, a mulher pediu a um amigo que levasse o gato até uma estrada rural, nas cercanias da cidade, que estava plantada num vale, rodeada de montanhas. E que fosse bem longe da casa que iam deixar, apesar dos protestos das crianças.
Então, a família se mudou. Para o outro lado da cidade, ruas e ruas além da antiga casa.
E as crianças sentiram falta do gato mas, com o tempo, se acostumaram.
Passaram-se meses. Acho que sete, como o número de vidas que dizem que um gato tem.

E, então, um dia, as crianças ouviram um miado do lado de fora da porta.
Nem precisaram abri-la para saber que o gato voltara para a família, na nova casa.
Não foram necessárias palavras, que crianças e gatos sabem ser espontâneos na alegria...
Fez-se a festa, entre risos e miados...

Imagem: Gato Rosa, Aldemir Martins, Serigrafia, 60 x 40 cm, Garcia Arte


domingo, 12 de dezembro de 2010

SIMPLESMENTE...NATAL


Pensei em rimas
Para a palavra Natal
E na imaginação
Desfilaram sugestivas e diferentes palavras
Mas como sinos que tocam para anunciar uma chegada
Encantou-me unicamente a palavra Sinal.

Pensei em Natal como colcha de retalhos
Uma colcha inacabada, feita de pequenos pedaços de tecido,
Tecido da vida vivida em texturas diversas
Com espaços ainda livres para se costurar novos padrões.
Em cada textura tocada, um caminho traçado, uma experiência,
Na mistura das linhas e na resposta dos sentidos ao toque
A possibilidade da leitura de um Sinal.
Natal, nascimento, Sinal, direção,
Novo nascimento a cada Natal, nova direção a cada Sinal.

Pensei Natal como mosaico
Colagem de diversos cacos
Do barro à porcelana.
Pequenos e grandes capítulos da vida vivida
Juntando-se novos cacos encontrados pela estrada,
Cacos muitas vezes doados por viajantes que cruzaram o caminho,
Para a construção de um vaso a ser preenchido
Por todos os sentimentos resultantes desses fragmentos
E toda a esperança nascida da reunião dos cacos em mosaico.
Um vaso onde alegrias e tristezas se completam,
Um pouco do que a vida deixou, um tanto do que deixaram em nossa vida,
Em cada nova colagem, um re-nascimento, Natal
A cada aresta de um caco, Sinal.

Pensei Natal como profusão de cores.
Viagem por um arco-íris onde a energia de cada nuance
De cor invada o ser com renovada vontade,
Permitindo a visão de que cada dia tem seu colorido próprio,
Cada momento seu brilho e tudo nessa escala das cores
É aprendizado.
Mudar de cor é como trocar olhares, palavras,
Criar laços, estabelecer re-lações, relacionar-se.
Há uma aura colorida que nos envolve
E renasce a cada momento, Natal,
mostrando que cada nuance tem seu significado e seu propósito, Sinal

Pensei Natal como sinfonia, escala ritmica de sons,
Sons que invadem os ouvidos e acalmam, sons que despertam
Sons que embalam o sono, sons que pedem o movimento, a dança
Sons de palavras que ouvimos e nos calaram na alma
Sons de conversas que nos ensinaram a ouvir, a respeitar
Sons provenientes de canções entoadas em versos que nos acrescentaram algo
Sons de vozes em orações dirigidas aos céus

Sons de preces que fizeram nossa alma re-nascer, Natal
Sons expressos no canto sutil de um pássaro como resposta vinda do alto, Sinal

Pensei Natal como momento de acrescentar mais um retalho à colcha da vida, colar mais um caco ao vaso do ser, pintar a alma com a cor mais desejada e se deixar tocar pela emoção do som quase palpável da voz esperada.
Pensei Natal como presentear um pouco do que somos e aceitar como dádiva o que do outro recebemos.


Pensei Natal em rima com Sinal, que dispensa o Especial, que pede o Essencial, que permite, às vezes, ser Banal...
Pensei Natal como o instante de liberar a simplicidade para sinceramente desejar
FELIZ NATAL!

quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

TOME POSSE DO QUE É SEU... ALIMENTE SONHOS

















Não comece algo à toa
Sem essa de ir até a metade
Não peça arrego se ainda há fôlego
Esqueça o que já foi difícil
Não meça o tempo que falta
Gaste sua melhor energia com o principal
Só mexa com o que não lhe tira o foco
Não faça as coisas do amanhã
Um pedaço terminado torna-se um todo
Aceite que limitações não são impossibilidades
Alimente sonhos como se fossem realidade
Somente queira o que lhe vier por inteiro
Nunca deseje menos do que merece
Jamais se iluda pensando que merece pouco
Busque tudo o que é seu por direito.

Imagem: Google

segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

XAROPE DE AGRIÃO














Eles eram jovens...

E apaixonados.

Ela apenas uma adolescente, nem completara seus quinze anos e ele, um mocinho. Belo e loiro, fazia as meninas da época suspirarem.

Ambos eram filhos de italianos, imigrantes que viviam numa pequena cidade brasileira onde o aroma de vinho estava no ar.

Entre os casarões do século 19 eles se olhavam. Nas quermesses da igreja podiam se aproximar um pouco mais. Eram jovens de sua época, o promissor início do século 20. Estavam cheios de energia e felizes. O mundo lhes sorria como a última moda nas vitrines das lojas.

O pai dela proibira o namoro. Tratava-se de uma das filhas mais novas, menina esguia e pequena, aparentando menos idade do que seus olhos almejavam exibir.

A família dele era mais humilde, vivia da terra; o pai dela progredira a olhos vistos, tornando-se um bem sucedido empresário da cidade. Os negócios do pai da moça eram diversificados. Ele viera da Itália como pedreiro, com trabalho garantido na promissora indústria de tecidos que se instalara na cidade. Os primeiros tempos foram duros, mas as oportunidades de abertura de novas casas comerciais, com a chegada dos italianos e a era republicana que invadira o começo do século, ele soubera aproveitar.

Queria para a filha alguém à altura de seu padrão social.

O namoro acontecia tenso, escondido, cada vez mais apaixonado. O sabor de amor proibido e o ímpeto adolescente tornavam aquele romance digno das poesias publicadas nos tablóides da época. E viver essa aventura era coisa de que um casal de adolescentes, mesmo no início do século 20, jamais abriria mão. Era romântico e emocionante trocar beijos carregados de desejo e medo. Selavam seu amor em cartas escritas sob a luz de velas e entregues por cúmplices cupidos.

E então o moço, alto e robusto, deixou-se tocar pelo mal do século anterior. A cidade era de uma altitude que favorecia a cura da tuberculose, mas seu estado era grave.

Com a ajuda de um senhor que entendia de ervas, ela se debatia em busca da cura de seu objeto de paixão, quando ainda era muito comum às pessoas sucumbirem à doença que tirava o sopro de vida dos pulmões. Por diversas manhãs, guiada pelo curandeiro, a menina magra caminhava por estradas de terra, cabelos castanhos brilhando ao sol, em busca de plantações de agrião, à beira dos rios.

Os maços frescos de verde molhado enchiam seus braços, enquanto o cheiro de erva a envolvia como os pensamentos que lhe pesavam na mente de menina. A ameaça da morte rondava o ar, bailando horrorosa ao seu redor. E a saudade do toque, da voz e do movimento dos cabelos claros do jovem, faziam-na tontear pelas emoções reprimidas.

Xarope de agrião era considerado um santo remédio na cura de problemas pulmorares e a namorada se desfazia em mesuras ao curandeiro, pegando os frascos do melado verde escuro, que fazia chegar às mãos do namorado, num esforço próprio dos apaixonados.

Ele curou-se e em pouco tempo mostrava novamente sua vitalidade de jovem filho de italianos acostumado ao trabalho. A família da moça continuava alheia ao seu amor.

E foi o pai dela quem, numa noite, inesperadamente, entregou-se aos braços da morte.

O velório transcorreu como um acontecimento social com muito choro, velas, roupas negras, mulheres de véus pretos que deixavam transparecer cabelos presos sob a renda, e um luto que perduraria o tempo de costume. No féretro, as famílias bem relacionadas da cidade ocuparam as ruas, onde o odor de flores de cemitério combinava com olhos vermelhos e palavras ditas à meia voz.

Mas o namorado marcou uma ausência no enterro do pai da moça.

Essa falta numa passagem triste daria um outro rumo à história de amor, porque talvez o primeiro amor da jovem tivesse sido o pai. E com primeiro amor não se barganha. Ela não perdoou.

Todas as noites, tendo a irmã mais nova por testemunha, a moça se ajoelhava diante da cama, terço na mão e molhava o rosto por lágrimas sentidas. Mas era decidida. Com a mesma obstinação com a qual fora em busca de agrião para o xarope que, acreditava, devolvera a vida ao seu amor, ela o repudiara por tê-la deixado só num momento de morte. Era uma afronta não comparecer ao velório do pai, mesmo que repudiado por sua família.

E o romance findou-se, a paixão se esvaiu com o tempo, as lembranças se esmaeceram como fotos antigas em papel amarelado. Mas não se sabe se o amor acabou...

Ela se casou, anos depois, com um elegante farmacêutico, à altura do poderio econômico de sua família. E ele se uniu em matrimônio a uma professora. Ela, dona-de-casa; ele, funcionário público. Moravam em casas a poucas ruas de distância, até avistaram-se por vezes em acontecimentos sociais, mas não havia lugar para burlar regras ou reacender velhos sentimentos adolescentes.

Viveram vidas paralelas. Tiveram filhos, envelheceram.

E foi numa manhã de sol do século 21, quando ela se dirigia a uma lojinha com ar de antiga, em busca de linhas para suas costuras, que se cruzaram na mesma calçada estreita da época em que se encontravam enamorados.

Ela jamais se permitira admitir um olhar para o homem que ousara ofender seu pai no momento da partida. O amor sufocado dera lugar à raiva. Mas ele era um descendente de italiano, riso aberto, brincalhão, que aprendera a aceitar as imposições da vida e tirar dela tudo de melhor.

Em segundos, voltaram no tempo, ambos viúvos, ele calvo, mas com os mesmos expressivos olhos azuis; ela, cabelos brancos, olhar firme e a mesma enganadora fragilidade no andar.

Foi ele quem falou primeiro, com ar de deboche, escondendo a emoção:

- Ainda vamos nos encontrar no céu...

Pisando duro, ela se desviou, e chegou em casa contando o fato, indignada.

Ambos deixaram esse mundo pouco tempo depois, mas os céus nunca confirmaram o encontro e nenhuma estrela até o momento declarou-se testemunha.

Imagem: Google

sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

TAPA NA CARA




“Tem dias que a gente se sente
Como quem partiu ou morreu
A gente estancou de repente
Ou foi mundo então que cresceu”
(Mestre Chico)





Acordei como quem havia sido atropelada por um caminhão.
A imagem no espelho me parecia pura mentira. Eu tinha certeza de que espelhos não refletem a realidade da alma. Eu poderia dizer mil vezes como me sentia ou desenhar rabiscos intensos de como me via e sei que ninguém acreditaria.

Os versos de Sylvia Plath, colados no status do meu facebook, pura máscara, não me pareceram tão pessimistas, pois naquele momento eu encarnava o péssimo, ainda que deixasse todos os “ismos” de lado.

E foi então que saí para o encontro, após teclar por um momento, coisas intensas e sutis ao mesmo tempo, num misto de raiva e prazer, conversas loucas de onde brotavam versos e, naquela manhã, não foi diferente.

não tenho meio
nem começo
o fim é que vai ser
passou...
um avião?
o tempo
a vida
as coisas...
imagine!
sei de mim
coragem...
amigo é quem sabe
de você

Eu jamais fui pontual. Ao cruzar uma rua entre o asfalto e as árvores, abri a bolsa e peguei o celular. Bingo! (ou Pimba!) Era exatamente o horário marcado e eu estava pertinho do local.
Nada mal... E mal peguei o celular ele tocou, apressado em minhas mãos. Menos mal. Estávamos em sintonia, como sempre ocorria...

Retornei do encontro vazia...

Prazeres que não preenchem
O toque do envolvimento... em fuga
Fissuras...
Prazeres trincados, meias metades
Que constrangem a alma... em falta

Entre caminhar e chegar em casa, uma passagem pela biblioteca para retirar as ilustrações de minhas narrativas para crianças, pensando no projeto de contar histórias reais para deficientes visuais no próximo ano. Hilário... Pensar... Em como minha mente ainda reservava lugar para algo concreto e idealista numa manhã como aquela. Numa sexta-feira de um final de semana que não prometia... para mim.

Com as folhas A4 nas mãos, eu pisava forte o chão, e na cabeça pululavam as idéias de como eu insistia em fazer coisas que não queria e me permitia não realizar o que precisava. Aliás permissividade parecia moda, no desfile dos meus trajes mentais naquele momento... E me permitia ser conduzida por desejos alheios, como se um fio invisível e ditador me ligasse a eles.

E no meio do caminho entre o encontro e a casa, esbarrei com ele, o homem-risonho-de-dentes-muito-alvos, uma das pernas cortadas na metade da coxa, capengando em muletas, a camisa branca, semi-aberta, ressaltando o negror da pele, a calça cor de areia dobrada na parte cortada da perna. Foi uma visão surreal, no meio da calçada povoada por outros seres que me passaram despercebidos. Foi como uma cena de filmes com mensagem do tipo “A Vida é Bela”.

E foi o homem negro quem se dirigiu a mim, nos segundos em que nossos olhares se cruzaram.

 - He, He, você!... Mas eu tô muito triste, sofrendo muito! E você? Tá FELIZ, né? – fez ele, dando uma leve passada de olhos em mim.

Acordada do eco de meu poço de pensamentos, surpresa das palavras dele, como se ironicamente lesse minha mente, dentro dos meus jeans-claros-tamanho-38, a blusa branca levemente decotada, cabelos escorregando abaixo dos ombros, sandálias de sola em cortiça combinando com a bolsa – balbuciei algo que nem me lembro, atônita, enquanto ele já olhava para trás.

E o homem murmurou um “Ah!”, despedindo-se com um último olhar brilhante e significativo do tipo “Aprenda a andar com suas próprias pernas”.

Tapa da cara. Uma bofetada em segundos. Sinais... de novo!

Cheguei em casa pensando em montar minhas miniaturas de árvores de Natal. Era uma sexta-feira de dezembro, que, então, prometia...

Afinal...

“A vida é a arte do encontro, embora haja tanto desencontro pela vida.” (Mestre Vinícius)

Imagem: Google



quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

CONTAS DE CERÂMICA




As contas de cerâmica rolavam pelo chão como
gotas de chuva correndo pelo telhado.
Em poucos minutos eram muitas e paravam distanciadas umas
das outras como se quisessem indicar um caminho.
De repente, uma grande conta com um furo central que deixava passar a luz do sol vinha pelo ar, rolando como em câmera lenta, em contraste com o azul do céu.
Suas cores brilhavam sobre o fundo lilás da cerâmica esmaltada.
Eram desenhos, símbolos, figuras geométricas, abstrações em amarelo, vermelho.
E em segundos a conta aproximou-se da minha cabeça e duas manchas pretas, como olhos que fitavam os meus, voaram e a conta caiu,
levantando poeira ao redor dos meus pés.
Caminhei perplexa, seguindo a trilha de contas
 e minha intuição antevia a tragédia.
As tendas vazias... demolidas...
uma a uma, provocaram-me um aperto na garganta. 


Texto escrito no curso de especialização em Jornalismo Literário, no módulo de Desenvolvimento Interpessoal para Escritores da Realidade, durante exercício sobre Sincronicidade, após olhar e apalpar um objeto tirado aleatoriamente de uma caixa: uma conta de cerâmica colorida com um furo ao centro.

 

SINCRONICIDADE: "coincidência significativa de dois ou mais
acontecimentos, em que se trata de algo mais do que uma
probabilidade de acasos". (Carl Gustav Jung)



Imagem: Google 

DANÇA CIGANA






"Âmago do corpo
e dos instintos,
local de paz e estagnação,
de criatividade e limitação."
(A Imperatriz, III arcano maior no Tarô mitológico)





Tudo acontece em contato com o chão, a terra. Pessoas em trajes medievais assistem a um desfile, em pé, nas laterais de uma estreita rua. As cores diluem-se em tons de bege, poeira. A menina de seus dez anos destaca-se, cabelos castanhos até os ombros. No chão, outras crianças procuram enxergar a tudo, sentadas entre os pés dos adultos. Espiam por entre as pernas. A música evoca uma dança cigana.

 
A menina é moça e dança, gira sobre passos ao som da música. É atração no palácio, numa arena para nobres. O brilho do grande salão combina com trajes e luzes que evocam o dourado. A moça de cabelos negros rodopia numa balada rápida, em transe. Sua saia estampada em tons do azul ao roxo destaca a blusa vermelha e contrasta com o dourado do salão. Lá fora, pedras redondas rolam pela escada larga de degraus baixos. A vegetação ao lado balança com o rugir da ventania. A dançarina é cigana. Em sua mão, uma carta de tarô: A Imperatriz.

(Texto produzido após uma visualização criativa durante aula da disciplina Jornalismo Literário e Narrativas de Viagem, ministrada pelo mestre Edvaldo Pereira Lima, durante o curso de pós, especialização em Jornalismo Literário.)

E hoje acordei pensando nessa carta e em como ela representa a Mãe Terra, a paciência e a convicção de que tudo tem seu tempo... Encontrei logo de manhã este meu texto... Sincronicidades...

Imagem: O Tarô Mitológico, Juliet Sharman-Burke e Liz Greene