sábado, 18 de junho de 2011

UM DIA DE CADA VEZ













Hoje eu escrevo para você que, como eu, foi afetado (a) pelo beber excessivo de alguém.
E não estou aqui para dizer das estatísticas da Organização Mundial de Saúde sobre a doença que mata “socialmente”, nem para criticar a falsa alegria dos bares, e tampouco para fazer a apologia dos sóbrios.
 
Apenas conto o que vivi...

Se você se sente inadequado nas reuniões sociais, meio peixe fora d’agua, meio estranho, se acha que sua família está diferente das outras e você mesmo começa a ter atitudes um pouco estranhas e até ser tachado de maluco, a boa notícia é que você não está sozinho e a má... é que você pode ficar maluco mesmo. Se não tomar providências.

O beber excessivo de alguém afeta quem convive com ele de diversas maneiras: provocando a solidão e o isolamento, as agressões físicas e verbais, a tortura psicológica, e se reflete nas relações sociais, na vida profissional e financeira, no relacionamento afetivo e sexual, na educação dos filhos e no bem-estar emocional da família.

Mas, o beber excessivo de alguém faz seu maior estrago no que se chama hoje, ainda que não clinicamente, de co-dependência. O termo não é novidade, mas reúne em seu significado específico, nascido do relacionamento com um alcoólico, diversos aspectos do comportamento de quem convive com um dependente, seja ele de álcool, seja ele dependente químico de qualquer natureza.

Em linhas gerais, o “co-dependente” de um alcoólico desaprende de cuidar de si mesmo para tentar mudar o outro, mudar o beber excessivo do outro e se esquece de colocar seu foco na própria vida. Suas atitudes e toda a sua estrutura emocional se alteram, provocando conseqüências que vão do isolamento social ao suicídio ou patologias graves que têm conseqüências psicológicas e físicas que podem levar à morte. Diversas doenças diagnosticadas hoje têm sua relação claramente ligada à co-dependência.

E foi lendo o livro Mulheres que Amam Demais, de Robin Norwood, que acordei definitivamente para a questão da seriedade das conseqüências de querer mudar o beber excessivo de alguém. Visto por muitos como mais um livro de auto-ajuda, esse best seller dos anos 1980, que encontrei há poucos anos, aborda com precisão a ligação entre a dependência emocional, para quem tem a predisposição, e o alcoolismo.

Ou seja, mulheres, no caso do livro, mas estende-se aos homens também, com predisposição emocional unem-se a alcoólicos e fecham o ciclo da co-dependência. Aí funciona a lei da atração. E o livro traz ainda um impressionante gráfico comparativo entre a evolução do alcoolismo no dependente e a da co-dependência em quem convive com um. Em ambos os casos, a conseqüência pode ser a morte. Por motivos diversos, na maioria das vezes não associados ao alcoolismo.

Mas o livro mostra também caminhos para a recuperação. E foi depois de lê-lo que procurei o Al-Anon, Associação de Familiares e Amigos de Alcoólicos, há alguns anos. E recuperar-se da convivência com um alcoólico é colocar o foco em si mesmo e como afirma um dos lemas do grupo: Viva e Deixe Viver.

Fácil? Não para quem está acostumado a controlar, quem está na ilusão de que pode controlar o outro e suas atitudes. Deixar a parceria com o álcool é algo que somente a pessoa pode decidir. Não cabe a mais ninguém. Reaprender a cuidar de si mesmo, no caso do co-dependente já é muito.

E a receita tem ingredientes diversos. Desligar-se emocionalmente das atitudes do alcoólico. Sair do controle, e entregar tudo o que não pode controlar a um Poder Superior, seja ele um deus, o próprio Deus, a força da natureza ou o vazio em que crê um ateu. Sem dúvida, é um caminho espiritual, não importando em que você acredite. E isso é apenas o começo.

Compartilhar experiências, ler sobre o tema e praticar a programação sugerida são os instrumentos básicos para essa recuperação. A integração quebra o isolamento e a informação combate a negação. Mas a decisão e a atitude são escolhas de cada um. Os resultados são surpreendentes. Presto serviço coordenando reuniões de estudo no Alanonport, um grupo online, e comprovei isso em depoimentos de diversas pessoas. Além da minha experiêncie pessoal.

De resto, é confiar em si mesmo e no processo da vida.

Mas o milagre é Viver um dia de Cada Vez.


Literatura não Al-Anon indicada:
Co-Dependência Nunca Mais e Para Além da Co-Dependência, de Melody Beattie, editora Record.

Imagem: sorisomail

Twitter: https://twitter.com/#!/SilviaMello23 
DEUS É FIEL

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